Por Mônica Pileggi
Estudo publicado na Science Translational Medicine, com participação de bolsista da FAPESP, descreve nova molécula que inibe os efeitos prejudiciais ao coração promovidos pela tolerância à nitroglicerina
Agência FAPESP – Um estudo publicado
na revista Science Translational Medicine, com participação de bolsista da
FAPESP, descreve uma molécula que, administrada juntamente com a
nitroglicerina, pode evitar infartos mais graves decorrentes da tolerância ao
composto.
A nitroglicerina é um composto
químico explosivo obtido a partir da reação de nitração da glicerina. Além de
sua aplicação em explosivos, o composto é utilizado na medicina há séculos como
vasodilatador no tratamento de dores no peito, conhecidas como angina. O
tratamento também é utilizado nas salas de emergência de hospitais, quando
pacientes chegam com sinais de infarto agudo de miocárdio.
Entretanto, os benefícios da
nitroglicerina para o coração estão limitados pelo desenvolvimento de
tolerância ao composto. Na pesquisa, realizada no Departamento de Química e
Biologia de Sistemas da Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos
Estados Unidos, o brasileiro Julio Cesar Batista Ferreira e o chinês Lihan Sun,
doutorandos na instituição, descobriram que a intolerância à nitroglicerina não
se deve somente à perda do efeito vasodilatador do medicamento.
Segundo Ferreira, quando precedido do
infarto do miocárdio, o uso sustentado de nitroglicerina pode causar efeitos
devastadores ao coração. O estudo foi coordenado pela professora Daria
Mochly-Rosen.
A tolerância à nitroglicerina é
resultado da inativação da aldeído-desidrogenase 2 (ALDH2), uma enzima
essencial para a proteção cardíaca em humanos e animais vítimas de infartos. O
trabalho teve seus resultados publicados no início do mês na Science
Translational Medicine.
O estudo verificou que a molécula
ALDA-1, também descoberta pelos pesquisadores de Stanford, é capaz de manter o
funcionamento de ALDH2 e evitar efeitos deletérios decorrentes da tolerância à
nitroglicerina durante o ataque cardíaco.
Ferreira fez Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado na Escola de Educação
Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), com bolsas da FAPESP, e
está atualmente em Stanford. Em 2012, retornará à USP, após ter sido aprovado
em concurso para lecionar no Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências
Biomédicas.
De acordo com Ferreira, ao ser
administrada junto à nitroglicerina, a ALDA-1 mantém a enzima ALDH2 ativada
durante o infarto do miocárdio, inibindo os efeitos prejudiciais ao coração da
tolerância à nitroglicerina.
“Em casos de dores no peito e
infarto, médicos costumam administrar a nitroglicerina em cicloson/off – de 16
horas com o fármaco e 8 horas sem –, na tentativa de mascarar o efeito de
tolerância. Mas esse período prolongado leva à inativação da ALDH2, fator que
eleva as chances de um infarto mais grave”, disse à Agência FAPESP.
O pesquisador explica que a ALDH2 é
uma enzima mitocondrial cujas funções são essenciais no sistema cardiovascular,
entre as quais catalisar a conversão da nitroglicerina ao vasodilatador óxido
nítrico e remover aldeídos tóxicos produzidos durante o infarto do miocárdio.
“Com a inibição dessa enzima pelo
excesso de nitroglicerina, esses aldeídos se acumulam no coração e passam a se
ligar a proteínas, lipídios e ao DNA, resultando na morte celular durante o
infarto do miocárdio. Com a ALDH2 ativada, é possível remover com mais
facilidade esses aldeídos, minimizando os danos ao coração”, disse Ferreira.
O estudo foi feito em ratos. Após a
administração da nitroglicerina por 16 horas, os pesquisadores induziram
infarto do miocárdio nos animais e observaram que o grupo com nitroglicerina
apresentou disfunção cardíaca maior do que os demais ao longo de três semanas
após o infarto.
“Porém, quando administramos a
nitroglicerina combinada à ALDA-1, os efeitos deletérios da tolerância ao
medicamento não se manifestaram”, destacou.
O artigo ALDH2 Activator Inhibits
Increased Myocardial Infarction Injury by Nitroglycerin Tolerance (doi:
10.1126/scitranslmed.3002067), de Júlio Cesar Batista Ferreira e outros, pode
ser lido por assinantes da Science Translational Medicine
Fonte:FAPESP
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