Segundo o texto escrito por Elton
Alisson para a Agência FAPESP, Diversos agentes químicos, como aldeídos
presentes na fumaça do cigarro ou em poluentes urbanos e industriais, produzem
uma série de compostos no organismo humano, conhecidos como adutos, que são
capazes de induzir mutações no DNA e podem causar o desenvolvimento do câncer.
Para medir e quantificar esses adutos, que em
níveis elevados estão associados a diversos tipos de câncer, pesquisadores do
Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) estão utilizando técnicas
ultrassensíveis como
a espectrometria de massas.
Alguns dos resultados do Projeto Temático, realizado com apoio da FAPESP, foram
apresentados no 4º Congresso BrMASS, realizado pela Sociedade Brasileira de
Espectrometria de Massas em dezembro, em Campinas (SP).
De acordo com Marisa Helena Gennari de Medeiros,
professora do IQ e coordenadora do projeto, seu grupo de pesquisa tem
conseguido detectar e quantificar adutos produzidos por aldeídos (eteno adutos)
tanto em células humanas em cultura como em tecidos do fígado, cérebro e pulmão
de ratos expostos à poluição.
“Dentre as técnicas que têm sido utilizadas, a
espectrometria de massas é atualmente a mais importante e eficiente para se
detectar como
quantificar adutos no DNA”, disse.
O objetivo dos pesquisadores é utilizar esses
adutos como
marcadores biológicos (biomarcadores) em situações clínicas para detectar o
risco de desenvolvimento de um câncer ou para avaliar a exposição a diferentes
poluentes urbanos e industriais.
Por meio desses biomarcadores, em uma cidade como
São Paulo, onde a população está exposta a diversos poluentes, seria possível
avaliar qual deles, especificamente, é o responsável por uma determinada
quantidade de adutos no DNA. “Com isso, teríamos uma prova específica de que um
determinado poluente realmente afeta a saúde humana”, disse Medeiros.
Utilizando espectrometria de massas combinada com a
técnica de marcação isotópica – em que uma substância é “marcada” ao incluir
isótopos pouco comuns em sua composição química – os pesquisadores demonstraram
a formação de um aduto derivado do acetaldeído.
O estudo indicou que o composto produzido a partir
da queima da madeira e do tabaco de cigarro, entre outras fontes, pode ser um
marcador biológico de exposição tanto à poluição urbana como para o alcoolismo,
que é um dos principais fatores para o surgimento de câncer de boca, garganta e
faringe.
Medição de adutos
Parte dos resultados da pesquisa foi publicada no Journal
of The American Chemical Society e pode ser usada para explicar os
mecanismos associados à exposição ao composto químico e os riscos de câncer.
“Esclarecemos a formação, que era bastante
controversa, desse aduto por meio do acetaldeído, produto genotóxico ambiental.
O produto formado é um aduto de DNA comprovadamente mutagênico e produzido
também pela oxidação metabólica do álcool etílico”, disse Medeiros.
Segundo ela, o interesse pela pesquisa dos etenos
adutos começou a ser despertado nas últimas décadas quando surgiram diversos
casos de um câncer primário do fígado (hepatocarcinoma) muito raro entre
trabalhadores de uma indústria de plástico nos Estados Unidos.
Ao investigar a origem da doença, os especialistas
identificaram na época que se devia à exposição dos operários a compostos
cancerígenos, como
o cloreto de vinila e o uretano, utilizados na fabricação de polímeros.
Em 1992, cientistas conseguiram medir a formação de
etenos adutos produzidos por cloreto de vinila em tecidos do fígado, pulmão e
rim de ratos e dos trabalhadores da indústria de plástico norte-americana
expostos ao composto químico. A partir de então, iniciou-se uma busca por
técnicas ultrassensíveis para conseguir medir e quantificar esses adutos in
vivo.
“Esses adutos promovem a transição e a substituição
de pares de bases do DNA. Já são conhecidos sistemas para repará-los em
mamíferos e em extratos de células de ratos”, disse Medeiros.
Atualmente, a cientista coordena outro Projeto Temático com apoio da FAPESP.
O artigo [13C2]- Acetaldehyde Promotes
Unequivocal Formation of 1,N2-Propano-2′-deoxyguanosine in Human Cells (doi:
10.1021/ja2004686), de Medeiros e outros, pode ser lido por assinantes do Journal
of The American Chemical Society em http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/ja2004686.
Fonte: FAPESP