Em reportagem da Agência FAPESP, o reporter Elton Alisson discorre acerca do suplemento da revista Nature atual (Vol. 474 No. 7352_supp ppS1-S43) o qual possui vários artigos científicos e reportagens que dizem respeito aos biocombustíveis utilizando-se de diferentes perspectivas e que possui o apoio da FAPESP.
A revista Nature lançou, em sua edição atual, um
suplemento especial sobre biocombustíveis. A publicação tem apoio da FAPESP, do
Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC) do Reino Unido,
do BioEnergy Science Center (BESC), ligado ao Departamento de Energia dos
Estados Unidos, e das empresas Ceres e BP.
Intitulado Semeando
substitutos para combustíveis fósseis, o suplemento reúne artigos e
reportagens que abordam os biocombustíveis sob diferentes perspectivas.
Moving
forward with biofuels foi escrito por
Carlos Henrique de Brito Cruz (diretor científico da FAPESP), Richard Flavell
(cientista-chefe da Ceres), Martin Christie (diretor de comunicação e
sustentabilidade da BP Biocombustíveis), Janet Allen (diretora de pesquisa da
BBSRC), Douglas Kell (CEO da BBSRC), Martin Keller (diretor associado do Oak
Ridge National Laboratory) e Paul Gilna (diretor do BESC).
No texto, os autores destacam que os
biocombustíveis podem ser uma parte significativa da resposta à pergunta que se
faz hoje sobre como a humanidade pode seguir em direção à mobilidade de baixo
carbono assegurando, por um lado, o suprimento necessário de alimentos e
serviços ambientais suficientes e, por outro, minimizando ou mesmo revertendo a
produção de gases de efeito estufa, em um contexto no qual se prevê que o uso
de energia deverá dobrar até 2050.
Segundo eles, os
biocombustíveis podem substituir muitas aplicações do petróleo e, em
particular, os combustíveis líquidos utilizados no transporte. Além disso, eles
também podem servir como substitutos do petróleo nas indústrias petroquímicas,
como, por exemplo, na produção de polímeros “verdes”.
Em
contrapartida, a produção de biocombustíveis de plantas tem gerado muita
controvérsia e equívoco. O que, na opinião dos autores, justifica e torna
oportuno o suplemento especial da revista sobre o tema.
“A produção
em larga escala de biocombustíveis, como parte de uma agricultura global mais
eficiente, não é somente vital para a suficiência, segurança e sustentabilidade
energética, como também é um dos principais temas na agenda de debates
política, regulatória e de sustentabilidade”, afirmam.
De acordo com o texto, em 2010 os Estados
Unidos produziram 13 bilhões de litros de etanol de milho, o que corresponde,
aproximadamente, a 10% do total do combustível que utilizam e representa um
aumento de 800% em relação a 2000.
Por sua vez, o Brasil também teve um
aumento de sua produção, que chegou a, aproximadamente, 8 bilhões de litros de
etanol de cana-de-açúcar, representando cerca de 50% do combustível utilizado
no país. Mas esse aumento não foi obtido apenas com a expansão do uso da terra
para plantio.
Houve também um considerável aumento de
produtividade. “A produtividade da cana-de-açúcar aumentou no Brasil de 50
toneladas por hectare em 1975 para 80 toneladas por hectare em 2005”, apontam
os autores.
O texto também destaca a experiência
bem-sucedida do Brasil na utilização do etanol de cana-de-açúcar como
combustível, por meio de pequenas mudanças nos motores dos automóveis e na
produção do chamado polietileno “verde” por companhias petroquímicas como a
Braskem, além do farneseno (o diesel da cana), que deverá começar a ser
produzido em breve no país pela empresa Amyris.
“Quanto mais
informações forem reunidas de experimentos realizados em grande escala nos
Estados Unidos, com o milho, e no Brasil, com a cana-de-açúcar, mais inovações
e/ou melhorias serão possíveis em todas as etapas da cadeia de produção, assim
como nos novos projetos de processos de produção e biorrefinarias”, afirmam.
Lições
do Brasil
No
artigo Lessons from Brazil, a professora de economia da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP),
Marcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, aborda lições que o Brasil pode oferecer
para outros países com base em sua experiência de 35 anos como um dos maiores
produtores mundiais de biocombustível.
Essas lições
incluem a viabilidade de se substituir parte do combustível fóssil por uma
alternativa renovável, a necessidade de regras claras sobre o funcionamento do
mercado, a presença de uma economia de escala, a proteção ao meio ambiente e a
atração ao investimento estrangeiro.
“Qualquer país que queira atrair
investimento doméstico ou estrangeiro precisa ter regras claras sobre o
funcionamento de seu mercado de etanol. É preciso que estabeleça, entre outras
coisas, como será a formação de preços, a competição com a gasolina, uma
política de financiamento de estoque e de criação de empregos”, disse Moraes
à Agência FAPESP.
Entre os
outros artigos publicados no suplemento estão: A new hope for Africa,
de Lee Lynd, da Thayer School of Engineering do Dartmouth College; Direct
impacts on local climate of sugar-cane expansion in Brazil, de Scott
Loarie, pesquisador do Departamento de Ecologia Global da Carnegie Institution
for Science, e outros; e Microbial production of fatty-acid derived
fuels and chemicals from plant biomass, de Eric Steen, do Departamento de
Bioengenharia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e colegas.
O
suplemento especial Nature Outlook sobre biocombustíveis pode
ser acessado emwww.nature.com/nature/outlook/biofuels.