Essa
iniciativa que tem merecido destaque da imprensa e apoio da presidente
Dilma foi aplaudida por todos os cientistas e por aqueles que acreditam que o
desenvolvimento de um país passa pela ciência e tecnologia. A ciência não
possui fronteiras. Ela é universal. O programa “Ciência sem Fronteiras” prevê a
ida de 100.000 estudantes brasileiros para universidades do exterior nos
próximos anos. A expectativa é que ao voltarem, eles tragam na bagagem novas
tecnologias, novas maneiras de pesquisar e impulsionar a ciência e o
estabelecimento de intercâmbio científico com laboratórios
internacionais. Do mesmo modo que a presidente Dilma afirmou recentemente que
incentivos fiscais serão dados a empresas brasileiras para gerar empregos, esse
apoio prevê a formação de jovens cientistas que possam ter impacto na ciência
brasileira.
Entretanto,
para que esse programa possa ter sucesso dois aspectos são fundamentais:
1) Deve
haver critérios científicos muito bem embasados para selecionar os estudantes,
os laboratórios que vão recebê-los no exterior e os projetos de pesquisa. A
recusa do CNPq em apoiar certos projetos ou dar bolsas a alguns
estudantes tem se baseado na opinião de pesquisadores qualificados
que analisam cuidadosamente todos esses pontos. Além disso, temos visto casos
de estudantes brasileiros radicados no exterior, que não têm nenhuma intenção
de voltar ao Brasil, mas veem nessas bolsas a possibilidade de receber um
auxílio adicional em condições muito menos competitivas que as exigidas no
primeiro mundo.
2) Ao
voltar, os estudantes precisam encontrar no Brasil laboratórios com condições
comparáveis às do exterior para desenvolver suas pesquisas. Caso contrário todo
o investimento terá sido inútil. Nesse sentido, um aspecto fundamental
refere-se à agilidade para importar insumos para pesquisas. Temos batido nessa
tecla repetidamente. Várias iniciativas positivas já foram tomadas pelos
órgãos públicos e agências de fomento, mas ainda estamos longe do ideal.
Continuamos com grandes empecilhos. Algumas medidas muito simples poderiam
fazer uma enorme diferença e o melhor de tudo, gerar uma enorme economia não só
de tempo, mas também de recursos. Poderíamos fazer muito MAIS com MENOS.
COMO DEVERIAM SER AS IMPORTAÇÕES DE
INSUMOS PARA PESQUISA CIENTÍFICA?
Quais são os entraves?
O Brasil
que destaca-se mundialmente pela eficiência em programas de votação ou
declaração de imposto de renda por meio eletrônico ainda usa papel,
carimbos e assinaturas (do pesquisador responsável e do dirigente da
instituição) para autorizar cada reagente a ser importado para projetos de
pesquisa. Isso, sem falar dos despachantes e burocracias para liberar os
produtos da alfândega. Ou das greves que paralisam tudo. Gasta-se muito mais
tempo para viabilizar uma pesquisa do que para executá-la. É dificil de
acreditar, não? Com isso insumos requeridos para experimentos científicos
inovadores – que chegam em apenas algumas horas às mãos dos pesquisadores no
primeiro mundo, permitindo que testam imediatamente suas ideias - levam
semanas e às vezes meses para chegar aos laboratórios brasileiros. Como
competir com laboratórios internacionais de ponta quando a rapidez na pesquisa
é crucial? Impossível.
Como mudar esse quadro? Qual é a
receita?
É muito simples.
1)
Todos os pesquisadores brasileiros nas universidades ou institutos de
pesquisas estão cadastrados no sistema Lattes do CNPq, uma plataforma
excelente. Basta colocar o nome e aparece a sua biografia científica e
linhas de pesquisa.
2)
Com raras exceções, os reagentes necessários para as pesquisas são
conhecidos, catalogados e já aprovados por agências reguladoras nacionais e
internacionais. Bastaria ter uma lista de todos eles em bancos de dados
acessíveis para qualquer pesquisador, via internet.
3)
As agências financiadoras ao apoiar e destinar recursos aos projetos de
pesquisas alocam um certo montante para material importado. Porque não vincular
esse valor a um cartão de crédito com o nome do pesquisador responsável
no mesmo limite aprovado para pesquisa?
Como seria na prática o programa ?
Toda vez
que um pesquisador – já cadastrado – precisasse de um reagente bastaria colocar
o nome do produto e solicitar sua importação. O programa “importe-pesquisa”
ou “ reagentes sem fronteiras” localizaria o código do material, o
fabricante e deduziria o valor do total de verbas de importação do pesquisador.
E o melhor de tudo. O produto poderia ser entregue diretamente ao pesquisador
pelo fabricante, no seu laboratório, sem ter que passar por alfândega,
despachante e outros entraves burocráticos. Do mesmo modo que se importam
livros.
Quais seriam as vantagens?
Além da
agilidade para importar material de pesquisas esse sistema poderia gerar uma
grande economia não só dispensando os agentes intermediários, mas permitindo
que se importasse somente o reagente necessário para aquele experimento, sem
necessidade de estoques, perda de material etc.. Cada pesquisador seria o
responsável pelos insumos importados.
Presidente Dilma, dê um voto de
confiança aos cientistas brasileiros
Repito
aqui um apelo que já fiz várias vêzes: presidente Dilma, dê um voto
de confiança aos pesquisadores. Tenho certeza que essas medidas, se
implementadas, serão aplaudidas por todos os cientistas brasileiros e por
aqueles que lutam por um país melhor. Elas poderão ser fundamentais para
que o programa “Ciência sem Fronteiras” alcance os objetivos desejados e
resulte em um salto qualitativo na ciência e tecnologia do Brasil.
Por
Mayana Zatz para a Revista Veja.